Cultivos - Kappaphycus Alvarezii
Kappaphycus alvarezii: Características e Histórico de Cultivo
A espécie Kappaphycus alvarezii pertence ao domínio Eukaryota, Reino Plantae, Subreino Biliphyta, Filo Rhodophyta, Subfilo Rhodophytina, Classe Florideophyceae, Subclasse Rhodymeniophycidae, Ordem Gigartinales, Família Areschougiaceae e Gênero Kappaphycus (Guiry & Guiry, 2008).
De acordo com Guiry & Guiry (2008), essa espécie pode alcançar até 100 cm de comprimento. O talo é carnoso, variando de ereto a foliáceo, fixando-se ao substrato por uma base crostosa ou por um emaranhado de eixos basais presos em vários pontos. Alguns talos são achatados, lineares a incrustantes, geralmente prostrados. O eixo é multiaxial, com uma célula axial central e células medulares isodiamétricas misturadas com rizoidais; algumas espécies podem ser pseudoparenquimatosas. Embora os estágios iniciais de reprodução não tenham sido detalhados, é provável que sejam semelhantes aos de Eucheuma, onde o cistocarpo maduro tende a se formar diretamente no eixo, em vez de ramos laterais ou espinhosos, sendo este formado pela fusão da célula central e envolvido por gonimoblastos carposporangiais e gonimoblastos estéreis, estes últimos comunicando-se com filamentos adjacentes de proteção.
Os pigmentos encontrados em Kappaphycus alvarezii incluem clorofilas a e d, e ficobilinas, com predominância da ficoeritrina. No entanto, a cor das espécies varia desde rosa a negra, podendo, em alguns casos, ser esverdeada. Como produtos de reserva, a espécie apresenta o amido das florídeas, que ocorre como grânulos no citoplasma, fora do cloroplasto (Lee, 1989). Os exemplares cultivados no Brasil possuem coloração verde, marrom e vermelha.
Kappaphycus alvarezii é uma espécie perene com grande plasticidade morfológica. Seu biociclo é do tipo trigenético isomórfico, contendo duas fases nucleares: uma haplóide (gametófito) e duas diplóides (carposporófito e tetrasporófito), resultando em um ciclo trigenético haplodiplôntico, sendo as duas primeiras fases isomórficas e a última crescendo sobre o gametófito feminino. Esta espécie ocorre principalmente em áreas de recifes de corais na região do Indo-Pacífico (Areces, 1995).
Os cultivos de Kappaphycus alvarezii e Eucheuma denticulatum (Burman) Collins & Hervey, iniciados nas Filipinas na década de 1970, transformaram a indústria mundial de ficocolóides em apenas dez anos (Areces, 1995), empregando mais de 60 mil famílias. O sucesso da maricultura de Kappaphycus inspirou sua propagação para diversas regiões do mundo, como Estados Unidos (Doty, 1985), Japão (Mairh et al., 1986), Cuba (Serpa-Madrigal et al., 1997), Venezuela (Rincones & Rubio, 1999) e Brasil (Paula & Pereira, 1998). Esse sucesso se deve principalmente às características das espécies cultivadas, como rápido crescimento e metodologias simples de cultivo, baseadas na propagação vegetativa (Mshigeni, 1990).
Atualmente, Kappaphycus alvarezii é a principal matéria-prima para a produção de kappa-carragenana, com a principal fonte de matéria-prima proveniente de cultivos nas Filipinas, Indonésia e Tanzânia (Pickering et al., 2007). A produção anual de espécies de Eucheuma e Kappaphycus aumentou de cerca de mil para cem mil toneladas de alga seca entre 1971 e 2002, resultando em receitas de US$ 270 milhões (Ask & Azanza, 2002). Em termos de produção aquícola global, 23% correspondem ao cultivo de algas, gerando receitas superiores a US$ 11 milhões entre 2000 e 2002. Kappaphycus alvarezii foi uma das espécies mais produzidas mundialmente, com uma produção de cerca de 4,2 milhões de toneladas (FAO, 2004).
No Brasil, Hypnea musciformis é a única espécie nativa utilizada para a produção de carragenana (Oliveira Filho, 1990; Paula et al., 2001; Reis et al., 2007). Entretanto, seus estoques naturais são limitados, apesar de sua ampla distribuição no litoral brasileiro (Oliveira Filho, 1990; 1997; Paula et al., 2001, 2002) e alta taxa de crescimento (Reis et al., 2005). No entanto, o cultivo dessa espécie é difícil (Oliveira Filho, 2005). Por esses motivos, e com a argumentação de que a colheita de H. musciformis em bancos naturais é insuficiente para suprir a demanda nacional, Oliveira Filho (1990) propôs a introdução das espécies Kappaphycus e Eucheuma.
No Brasil, Kappaphycus alvarezii foi introduzida experimentalmente na Praia do Itaguá (Ubatuba, SP) em 1995, após estudos acadêmicos para obter conhecimento sobre a biologia desse clone e verificar a viabilidade de seu cultivo no local sem causar danos ambientais (Paula & Pereira, 1998; Paula et al., 2001, 2002). Em 1998, outro clone trazido da Venezuela foi introduzido na Baía da Ilha Grande e posteriormente na Baía da Marambaia, ambas no Estado do Rio de Janeiro, para a implantação do primeiro cultivo comercial em larga escala no Brasil.
A criação de uma legislação específica para esse tipo de cultivo no Brasil começou em 29 de novembro de 2005, com a realização da primeira reunião temática, coordenada pela SEAP-PR (Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca – Presidência da República) e pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, para tratar da regulamentação do cultivo da alga Kappaphycus alvarezii no Brasil. Em 29 de março de 2006, ocorreu a segunda reunião na Universidade do Vale do Itajaí (SC), durante o XI Congresso Brasileiro de Ficologia. Em 18 de julho de 2007, foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), pelo IBAMA, a Instrução Normativa (IN) nº 165, de 17 de julho de 2007, permitindo o cultivo de Kappaphycus alvarezii exclusivamente no litoral sudeste e sul do Brasil, mediante a assinatura de Termo de Compromisso (TC), para os empreendimentos que tivessem protocolado solicitação de cessão de uso de espaço físico de domínio da União para fins de aquicultura na SEAP-PR até a data de 29 de novembro de 2005.
Em 23 de julho de 2008, foi publicada no DOU a IN nº 185 (IBAMA), que permitiu o cultivo de Kappaphycus alvarezii entre a Baía de Sepetiba (RJ) e a Ilha Bela (SP), regulamentando definitivamente essa atividade no Brasil.